Resumo do Livro Inteligência Multifocal, de Augusto Cury,
Alguém é capaz de explicar a mente humana? Em Inteligência Multifocal, Augusto Cury prova que nosso intelecto não é um sistema binário ou simples. Pelo contrário, é algo muito mais amplo.
Segundo o autor, a partir do momento em que nos dispomos a expandir o mundo das ideias sobre a mente humana, a construção de pensamentos e sobre a formação de pensadores, nós nos transformamos. Isso porque repensamos nossas posturas intelectuais, verdades e paradigmas, de acordo com a bagagem adquirida.
Começamos a compreender e a apreciar a teoria da igualdade, a partir da construção da inteligência. Por exemplo, mesmo quem vive na miséria possui a mesma complexidade nos processos de construção da inteligência que os intelectuais mais brilhantes das universidades.
Enfim, existe um mundo rico, sofisticado e interessante a ser descoberto nos bastidores da mente humana. Algo que vai além da massificação da cultura, do consumismo, da cotação do dólar, da tecnologia, da moda, do estereótipo da estética.
Você ficou interessado em saber mais sobre o que é a Inteligência Multifocal – essa teoria sobre a construção dos pensamentos, para explicar como eles se formam? Então, fique com a gente! Mas, antes, vamos falar um pouquinho sobre o autor.
Quem é Augusto Cury?
Augusto Cury escreveu vários livros, entre eles, o best-seller sobre a teoria da Inteligência Multifocal. Suas obras foram publicadas em mais de 70 países, com 25 milhões de unidades vendidas, somente no Brasil.
Cury foi considerado o autor brasileiro mais lido da última década, pela revista ISTOÉ e pelo jornal Folha de S. Paulo. Além disso, ele recebeu o prêmio de melhor ficção de 2009, pela Academia Chinesa de Literatura, com o livro O Vendedor de Sonhos, que foi adaptado para o cinema em 2016.
O homem e a exploração de si mesmo
A maior e uma das mais importantes explorações do homem é a exploração do seu próprio mundo intrapsíquico. E o livro Inteligência Multifocal enumera os direitos fundamentais do homem que, segundo o autor, inclui aprender a:
- interiorizar-se;
- criar raízes mais profundas dentro de si mesmo;
- explorar a história intrapsíquica arquivada na memória;
- questionar os paradigmas socioculturais;
- trabalhar com maturidade as dores, perdas e frustrações psicossociais;
- desenvolver consciência crítica, conhecer os processos básicos que constroem os pensamentos e que constituem a consciência existencial.
Porém, frequentemente, esses direitos são exercidos com superficialidade, principalmente, porque o homem moderno tem vivido uma crise de interiorização.
A tendência intelectual natural do Homo sapiens é seguir uma trajetória de construção intelectual superficial. Em outras palavras, ele pouco se interioriza, pouco procura por si mesmo e pouco conhece a si mesmo.
A mente humana e a inteligência
A mente
No livro Inteligência Multifocal, a mente é usada como o ambiente onde se processa as faculdades intelectuais, onde se desenvolve a inteligência.
A inteligência
É um conjunto de estruturas psicodinâmicas derivadas do amplo funcionamento da mente. É a capacidade de pensar, se emocionar, ter consciência. Ela é constituída de quatro grandes processos:
- Construção de pensamentos
- Transformação da energia emocional
- Formação da consciência existencial
- Formação da história existencial arquivada na memória
Esses processos estão em atividade o tempo todo. Eles não param de evoluir, mas sua evolução tende a diminuir na vida adulta.
A arte da observação e da análise multifocal
Até um mendigo é uma pessoa complexa, rica intelectualmente e interessante de ser observada e analisada. Muitos deles, quando se aproximam uns dos outros, logo estabelecem uma relação interpessoal e trocam diálogos, pois, não têm preconceitos socioculturais, não precisam ostentar status ou provar qualquer coisa para estabelecer confiabilidade.
A mercadoria de troca interpessoal entre os mendigos, de acordo com o livro Inteligência Multifocal, é o que eles são e não o que eles têm, diferentemente de grande parte das relações nas sociedades modernas.
Ou seja, até entre as pessoas que vivem em condições miseráveis é possível apreciar o espetáculo da construção de pensamentos e contemplar lições existenciais.
Por outro lado, os computadores jamais passarão de escravos de estímulos programados, ainda que incorporem um processo de autoaprendizagem e levem em consideração a “lógica paraconsistente”.
Para o autor, é cientificamente ingênuo dizer que os computadores produzem uma realidade virtual, pois, eles não têm consciência existencial de si mesmos, eles não existem para si mesmos e, portanto, não têm consciência da organização das informações que expressam nas telas de vídeo.
Os 7 procedimentos multifocais
Os procedimentos utilizados na pesquisa acadêmica normalmente são bem conhecidos no mundo todo, tais como: seletividade de dados, análise de dados, levantamento bibliográfico, uso de uma teoria como suporte da interpretação. Porém, os os 3 primeiros procedimentos multifocais são a arte de:
- Formular perguntas;
- Duvidar;
- Criticar.
Os outros 4 procedimentos multificais são:
- A busca do caos intelectual, para se processar a descontaminação da interpretação;
- A busca do caos intelectual, para expandir as possibilidades de construção do conhecimento;
- A análise das causalidades históricas e das circunstancialidades biopsicossociais;
- A análise dos processos de construção das variáveis de interpretação na mente.
A Inteligência Multifocal e as 5 cinco mesclagens de contrapontos intelectuais
Trata-se das mesclagens entre:
- a liberdade contemplativa de observar os fenômenos com a disciplina empírica no processo de observação e seleção dos mesmos.
- a liberdade de interpretar os fenômenos com a reorganização e reorientação contínua do processo de interpretação.
- a utilização do caos intelectual para esvaziar, tanto quanto possível, as distorções preconceituosas e os referenciais históricos contidos no processo de formação da personalidade com a utilização desse caos para expandir as possibilidades de compreensão dos fenômenos e de construção do conhecimento.
- a liberdade da produção do conhecimento com a reciclagem crítica e contínua da mesma.
- a análise das variáveis da interpretação (fenômenos) com a análise dos sistemas de co-interferências que elas organizam para gerar o funcionamento da mente e a construção das cadeias de pensamentos.
A arte de perguntar é mais importante do que a arte de responder
De acordo com a teoria da Inteligência Multifocal, a maneira como se pergunta pode produzir um autoritarismo das ideias, pois, estabelece as diretrizes das respostas. Assim, antes da busca das respostas e da produção de conhecimento, devemos formular perguntas multifocais sobre os fenômenos e suas micro e macrorrelações, além de perguntas sobre as próprias perguntas, suas dimensões, seus limites e alcance.
Vacina intelectual
É mais fácil desenvolver o autoritarismo do que a democracia das ideias, do que redirecionar o processo de observação, interpretação e produção de conhecimentos por meio do exercício da “consciência crítica do eu”, afirma o autor de Inteligência Multifocal.
Os “antídotos” intelectuais contra o autoritarismo nas relações humanas são multifocais:
- compreender que a democracia das ideias é uma inevitabilidade;
- respeitar o ser humano na sua integralidade;
- considerá-lo capaz de pensar e escolher seus próprios caminhos;
- estimular a revolução das ideias que ocorre na sua mente e procurar contribuir para que ela seja redirecionada para desenvolver a revolução do humanismo, da cidadania e da capacidade crítica de pensar.
O homo interpres e o intelligens
Homo interpres
É o homem inconsciente, representado pelos territórios da memória e pelo conjunto de fenômenos inconscientes que produzem o funcionamento da mente humana, da psicoadaptação, da autochecagem, da âncora da memória, do autofluxo.
Eles são responsáveis pelo registro das informações na memória, pela leitura da mesma e pela construção das cadeias de pensamentos e das reações emocionais.
Homo intelligens
É o homem consciente, representado pelo “eu”, o grande fenômeno consciente da inteligência. Por meio do “eu”, temos a consciência existencial, ou seja, a consciência de que existimos e de que há um mundo que existe e pulsa ao nosso redor.
Além disso, ressalta o livro Inteligência Multifocal, temos a consciência de que pensamos e nos emocionamos e podemos administrar os pensamentos e as emoções.
O Homo intelligens é resultado do Homo interpres, pois, todos os fenômenos que produzem a nossa consciência são inconscientes.
Memória e inteligência
É comum a confusão entre memória e inteligência, quando se diz que a pessoa que tem melhor memória ou melhor capacidade de lembrança é mais inteligente. No entanto, para Augusto Cury, esse conceito é desprovido de fundamento.
No livro Inteligência Multifocal, ele explica que não existe lembrança. Não há lembrança das informações contidas na memória, mas reconstrução das mesmas.
Os 2 tipos de memórias
A Memória Existencial (ME) e a Memória de Uso Contínuo (MUC) formam a totalidade da história intrapsíquica de um ser humano, contendo, portanto, todos os segredos de sua vida, explica Cury, em Inteligência Multifocal.
A Memória Existencial representa as experiências que vão sendo registradas ao longo da vida e a Memória de Uso Contínuo representa as informações que vão sendo usadas e rearquivadas continuamente. Por exemplo, os endereços e e-mails, os números telefônicos, as fórmulas matemáticas, as palavras que compõem uma língua.
O passado não é lembrado, mas reconstruído
Os processos de construção da inteligência desencadeados pela leitura da história intrapsíquica, principalmente, pela memória existencial, são tão complexos que, ao estudá-los, compreendemos que não existe a “recordação” ou “lembrança” original das experiências do passado, mas uma interpretação em que reconstruímos essas experiências no palco de nossas mentes.
Os pensamentos dialéticos
Os pensamentos dialéticos são conscientes, lógicos, bem organizados em cadeias psicodinâmicas, bem definidos psicolinguisticamente, gerenciados com facilidade pelo “eu”. Por isso, são utilizados com frequência na análise, na síntese das ideias, nos discursos teóricos, na produção científica, na produção tecnológica, nas relações sociais.
O livro Inteligência Multifocal explica que esses pensamentos são expressos com facilidade na comunicação social e interpessoal. Afinal, eles são facilmente codificados pelo sistema nervoso central e pelo aparelho fonador.
No entanto, os pensamentos dialéticos têm dimensões muito maiores do que a expressa pela comunicação social e interpessoal por meio da verbalização. Por isso, frequentemente, temos a sensação de que as palavras não conseguem expressar o conteúdo dos nossos pensamento. Ou seja, a dimensão das ideias é maior do que a dimensão das palavras.
Gerenciamento do “eu” sobre a construção de pensamentos
Embora ocorra nos palcos conscientes da inteligência, o “eu” vive um paradoxo intelectual indescritível, pois, organiza “inconscientemente” a construção de pensamentos, a racionalidade humana. Ou seja, ele lê a memória, organiza as RPSs e produz as cadeias de pensamentos conscientes, destaca o livro Inteligência Multifocal.
A construtividade do mundo das ideias, que promove toda racionalidade dialética, toda ciência, toda produção de arte, toda comunicação social, enfim, toda “consciência existencial do eu” sobre o mundo que somos e em que estamos é produzida por processos inconscientes que são operacionalizados nos bastidores da psique.
Os mordomos da mente educando silenciosamente o “eu”
Não deveríamos considerar a rica construção de pensamentos produzidos pelos mordomos da psique humana como um problema. Pelo contrário, o autor de Inteligência Multifocal garante que, sem essa rica e inevitável construção de pensamentos, a vida humana se tornaria um tédio insuportável, uma solidão indescritível, pois, ela é a mais importante fonte de entretenimento humano. Além disso, a história intrapsíquica e o “eu” não se desenvolveriam.
A autochecagem da memória
A autochecagem é o fenômeno que lê automaticamente a memória. Ele é o primeiro fenômeno que atua na inteligência. Ou seja, diante de um estímulo qualquer, seja um pensamento ou um estímulo físico, ele é acionado e em milésimos de segundos lê a memória, assimila seu conteúdo e, consequentemente, produz as primeiras reações no cerne da inteligência.
Ninguém pode se livrar da ansiedade vital
A ansiedade vital é diferente da ansiedade patológica, da tensão emocional doentia, que normalmente é angustiante e, frequentemente, é acompanhada de sintomas psicossomáticos.
A ansiedade vital é fundamental no processo de leitura da história intrapsíquica e de construção da inteligência. De acordo com o livro Inteligência Multifocal, ela anima e provoca psicodinamicamente os processos de construção dos pensamentos, da consciência existencial e as transformações da energia emocional e motivacional.
A teoria da Inteligência Multifocal e a âncora da memória
A âncora da memória é um fenômeno intrapsíquico inconsciente que desloca e é deslocado psicodinamicamente pelos três outros fenômenos que fazem a leitura da história intrapsíquica:
- a autochecagem da memória;
- o autofluxo;
- o “eu”.
Nem toda memória está disponível para ser lida. A âncora da memória é difícil de ser definida, mas, em síntese, ela se refere a um foco ou “território” de leitura da memória, num determinado momento da existência.
A âncora da memória fornece um grupo de informações psicossociais que ficam disponíveis para serem utilizadas pelos fenômenos que lêem a memória e constroem pensamentos.
A liberdade de pensamento
Liberdade plena de pensamento nem sempre é conquistada pelo “eu”. Pelo contrário, segundo a Inteligência Multifocal, ela é dirigida inconscientemente pelos deslocamentos da âncora da memória, que restringe o território de leitura da memória.
Quando produzimos pensamentos, nós nem sempre temos uma livre escolha das informações e das ideias, devido à restrição da “disponibilidade histórica” imposta pela âncora da memória.
Assim, afirma Cury, grande parte dos pensamentos gerenciada e produzida pelo “eu” não foi, na realidade, gerenciada e produzida com plena liberdade de escolha. Pelo contrário, ocorreu dentro dos limites da âncora da memória.
Inteligência multifocal difícil de ser gerenciada
O “eu” é o fenômeno que expressa a vontade consciente do homem. Ou seja, sem esta, o homem é um ser que vaga irracionalmente como os demais seres da natureza. Se fôssemos capazes de destruir o “eu”, estaríamos encerrados na mais terrível solidão e existiríamos sem ter consciência de que existimos.
As psicoses esquizofrênicas comprometem a estrutura e a lógica do “eu”, por isso, elas são graves. Todavia, quando ajudamos os pacientes em surto psicótico a desacelerar seus pensamentos, eles organizam o processo de leitura da memória, constroem pensamentos dentro dos parâmetros da realidade e rompem com seus delírios e alucinações.
Assim, desacelerar o fluxo dos pensamentos e alargar os territórios de leitura da memória são fundamentais para que o “eu” possa administrar a produção dos pensamentos com lógica.
A terapia multifocal
Por que tratar de um paciente deprimido, com Síndrome do Pânico ou Transtorno Obsessivo é um processo lento e complicado? Se o mundo das ideias e das emoções é tão criativo, por que temos dificuldade em subjugá-lo?
Em horas, os cirurgiões extraem um tumor, mas os terapeutas demoram semanas, meses ou até anos para levar um paciente à resolução de uma doença psíquica.
Há muitas causas que explicam os entraves do gerenciamento do funcionamento da mente, e uma delas é que a produção de pensamentos é multifocal. Ou seja, produzida por múltiplos fenômenos. Todavia, afirma o livro Inteligência Multifocal, a principal causa é o pensamento dialético.
TMC: Teoria Multifocal do Conhecimento
Em Inteligência Multifocal, Cury explica que TMC é um conjunto de teorias que se inter-relacionam. Por exemplo, as teorias da construção dos pensamentos; da interpretação; crítica do conhecimento (lógica); transformação da energia psíquica; formação e utilização da história intrapsíquica arquivada na memória; formação da personalidade; construção das relações interpessoais etc.
Assim, a abordagem da inteligência, expressa por Cury, é apenas parte da teoria multifocal do conhecimento. Como ela investiga a inteligência a partir dos fenômenos e variáveis universais que estão na base da produção dos pensamentos, pode contribuir para explicá-las, revisá-las e abrir novas avenidas de pesquisa para elas.
A Cidadania da Ciência
O livro Inteligência Multifocal destaca a preocupação que todo pensador ou cientista deveria ter em relação à sua produção de conhecimentos, que é socializá-la. Assim, “Cidadania da Ciência” é, portanto, a humanização da teoria que se expressa por meio de procurar torná-la assimilável, aplicável e, portanto, psicossocialmente útil.
Os bastidores da mente
Todas as teorias, ideologias sociopolíticas, produções artísticas, poesias, discursos literários, diálogos interpessoais etc., são “peças intelectuais”. Elas são construídas nos bastidores inconscientes da inteligência e expressas na “crosta” ou “palcos conscientes da mesma”.
Temos consciência da produção intelectual que geramos, mas não temos consciência dos processos que geram essa produção intelectual nos bastidores inconscientes.
Portanto, o livro Inteligência Multifocal salienta que há um mundo a ser descoberto no âmago intrapsíquico de cada ser humano. Ou seja, um mundo que possui fenômenos tão complexos e sofisticados que são capazes de organizar as ideias, produzir as análises, confeccionar os paradigmas socioculturais, formatar os discursos teóricos das ciências, produzir os pensamentos antecipatórios, resgatar as experiências passadas, construir a consciência existencial do mundo que somos e em que estamos, transformar a energia emocional e motivacional etc.
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