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Davi mata Golias. Um resultado inesperado para uma luta em que, aparentemente, as forças eram desequilibradas.
O pequeno jovem Davi tinha apenas uma pedra e um estilingue. Golias, o gigante temido por todos, era forte, grande e se protegia atrás do escudo. O que aconteceu então?
O escritor Malcolm Gladwell aborda essas batalhas que se repetem a todo instante no ambiente dos negócios. Em seu livro Davi e Golias – a arte de enfrentar gigantes, ele desafia as crenças sobre nossas fraquezas e nossa insignificância, trazendo uma interpretação nova sobre o que é ser discriminado e subestimado.
Nem tudo é como parecer ser
Um guerreiro contra um pastor. O forte contra o fraco. O livro Davi e Golias nos leva a refletir sobre como enxergamos o que está à nossa frente e a entender porque nem sempre o favorito à vitória é aquele que nos parece óbvio.
Por meio de fatos reais, Gladwell mostra como a história de Davi e Golias está presente no nosso cotidiano. Daí a necessidade de conhecermos as nossas fraquezas e criarmos vantagens para conflitos improváveis.
Veja algumas dessas histórias fascinantes:
Driblando as fraquezas
Entre os exemplos reais contados no livro Davi e Golias, está a história do imigrante indiano Vivek Ranadive, nos Estados Unidos.
Apesar de ser um ignorante em relação ao basquete, Ranadive aceitou o desafio de treinar o time feminino da sua filha, na escola.
E foi exatamente a falta de conhecimento aprofundado sobre o esporte que se transformou na principal vantagem estratégica do time.
Com o olhar de quem está de fora, Ranadive perguntava-se a todo instante: por que os times não são capazes de se defender, quando a bola volta para a quadra após uma cesta?
Ranadive também tinha consciência da necessidade de fazer algo diferente para compensar o talento limitado do seu time.
Assim, surgiu a estratégia da marcação fechada, botando pressão e evitando que a bola voltasse para o campo de defesa. Algo não convencional que gerou estranheza entre os profissionais e os mais entendidos do assunto.
A verdade é que essa tática escondia as fraquezas do time. Ou seja, com uma defesa forte, não fazia diferença se o grupo não tinha arremessadoras fantásticas ou jogadoras altas.
Enquanto a defesa dura e constante estava em quadra, as jogadoras conseguiam roubar a bola e avançar sempre.
Enfim, a falta de habilidade em driblar e a dificuldade de arremessar – as principais fraquezas do time – levaram a um jeito diferente de competir. Uma jogada de ouro que valeu o lugar mais alto do pódio, no campeonato daquele ano.
O time fraco foi o vencedor. Como isso aconteceu? Porque todo o grupo conhecia suas fraquezas e apostou em inovação. Exatamente como fez Davi.
O ponto de equilíbrio
A gente costuma ouvir que tudo em excesso faz mal. Em Davi e Golias, Gladwell cita como exemplo as salas de aulas nos Estados Unidos.
Os americanos acreditam que o formato das salas, com menos alunos, favorece o aprendizado, com mais interações entre estudantes e professores.
Para o autor do livro Davi de Golias, o que parece bom pode trazer também desvantagens. Menos alunos significa menos diversidade e menos debates.
O ideal é buscar sempre por um ponto ótimo: um tamanho no qual a turma é mais eficiente em aprender.
A regra vale, também, quando o assunto é riqueza. Segundo Gladwell, dinheiro demais ou dinheiro de menos impactam na felicidade das pessoas.
Por exemplo, dinheiro sobrando pode gerar desafios na hora de educar os filhos. Segundo estudos, isso ocorre porque o valor percebido das coisas diminui, quando não existe algum tipo de escassez.
A receita é buscar o ponto de equilíbrio.
Coragem de ir na contramão dos padrões
Prender-se em padrões preestabelecidos pode inibir a criatividade, gerar estagnação e até mesmo resultar em desânimo ou numa sensação de derrota.
O livro Davi e Golias foi até Paris para buscar o exemplo dos artistas da galeria Salon. Há 150 anos, a Cidade da Luz era o centro da cultura artística da Europa. E a Salon expunha as obras dos grandes talentos.
Estar entre os melhores tinha um preço: adotar os padrões do que realmente significava a arte, estabelecidos pela galeria. Qualquer coisa diferente dessas regras, era automaticamente rejeitada.
Dá pra imaginar como era: tudo igual e padronizado. É claro que isso gerou revolta e um grupo de artistas se uniu para criar o próprio espaço de exposição. Obras que estavam longe de serem aceitas no Salon.
Desse movimento, nasceu o impressionismo, aclamado pela sociedade. Se esses artistas tivessem se conformado com os padrões do Salon, provavelmente, jamais conheceriam o sucesso.
Outro exemplo do livro Davi e Golias é da estudante Caroline Sachs, uma aluna excepcional que buscava a universidade ideal.
A dúvida da garota era entre escolher uma instituição extremamente conceituada ou outra que não integrava a lista das poderosas.
Uma universidade de peso valoriza o currículo e abre portas no mercado de trabalho. Em contrapartida, é difícil se destacar no meio de tanta gente talentosa e, assim, o estudante corre o risco de ser mais um no oceano.
Já uma escola menos conhecida oferece mais chances de destaque individual. Mas o estudante não carrega o peso da reputação em seu currículo.
Caroline optou pelo valor do nome da universidade e, a partir daí, transformou-se em uma aluna medíocre, sem destaque. O resultado foi terrível – desinteresse e abandono dos estudos.
Moral da história: padrões amplamente aceitos podem nos impedir de usar todo o nosso potencial. Devemos encontrar o nicho onde nos destacamos, apesar das nossas fraquezas.
Foco no talento e não nas fraquezas
Para ser bem-sucedido, é preciso ser melhor que os adversários em tudo, certo? Errado. O livro Davi e Golias desmistifica esse conceito. O importante mesmo, segundo o autor, é ser melhor nas áreas críticas que levam à vitória.
Veja o caso do advogado David Boies. Ele sempre teve dificuldades para ler, era disléxico. Mas esse seu ponto fraco não foi suficiente para fazê-lo desistir. Boies insistia em tentar melhorar o seu potencial de leitura.
Apesar da persistência, seus esforços não geraram resultados. Boies então decidiu inverter as prioridades e investir no seu talento, que era a habilidade de ouvir e memorizar tudo o que chegava até ele.
Boies tinha prazer em escutar as pessoas e era especial em reter conhecimentos. Isso lhe abriu as portas para o sucesso.
O mesmo aconteceu com Gary Cohn, um dos mais renomados executivos do banco Goldman Sacks. Apesar da corrente do contra, que não acreditava no seu potencial, ele não se intimidou com a sua fraqueza e decidiu investir no mercado financeiro.
O livro Davi e Golias relata um fato interessante na vida de Cohn. Certa vez, ele entrou em um táxi junto com um corretor de ações e, em uma hora de conversa, ganhou a oportunidade de se lançar nesse seleto mercado.
Ao apostar no seu talento, não se deixando intimidar pelas fraquezas, Cohn seguiu em frente e transformou-se em uma referência no mundo das finanças.
A perseverança leva ao sucesso
Muitas vezes, coisas boas nascem de situações ruins, porque as pessoas insistem e não se deixam abater pelas dificuldades. Foi o que aconteceu com Emil Jay Freireich, hoje reconhecido como pioneiro no tratamento do câncer e uso da quiomioterapia.
Mas a vida de Freireich não foi fácil. A família perdeu tudo com a Grande Depressão, seu pai se suicidou e sua mãe sustentava a família com as migalhas de um subemprego.
Essa realidade de dificuldades e tristezas não foi suficiente para ofuscar os sonhos de Freireich de se tornar um médico. A perseverança e coragem para buscar algo fora do convencional foram suas principais armas para mudar a própria história.
Para Gladwell, histórias como essa provam que é possível sair de cenários infernais e emergir mais forte e vencedor.
Legitimidade para liderar
Para criar autoridade e ser ouvido, é preciso inspirar e gerar confiança. Assim, quando se quer liderar um grupo para vencer uma batalha, o passo número 1 é conquistar a legitimidade das pessoas de forma autêntica.
Mas, para se chegar a esse ponto, é necessário entender os três pilares da obediência:
- as pessoas que são obrigadas a seguir uma autoridade precisam sentir que têm voz e que, se eles se manifestarem, serão ouvidas;
- a lei deve ser previsível e haver sempre uma expectativa do que acontecerá amanhã;
- a lei deve ser justa, ela não pode distinguir as pessoas umas das outras.
Os liderados seguem felizes aqueles que são percebidos como justos e humanos. Por outro lado, recusam obediência aos “inimigos”.
A prática desses princípios descritos no livro Davi e Golias capacita um líder a criar movimentos que superam o status quo.
Os limites da Curva U invertida
A revolta contra a morte de uma jovem estudante, em 1992, após um assalto violento em Los Angeles, levou as pessoas a se unirem em torno de ideias que pudessem reduzir a violência.
O movimento foi liderado pelo pai da jovem, Mike Reynold. Depois de conversar sobre o problema, o grupo concluiu que a violência era consequência de penas brandas para quem descumpria a lei.
A partir daí foi criada uma proposta que, em seguida, transformou-se na “lei das três chances”. Ou seja, alguém que era condenado pela segunda vez, deveria ter a sentença dobrada para esse crime. No caso de uma terceira ocorrência, a pessoa seria condenada a um mínimo de 25 anos na cadeia.
A lei resultou na queda de 36% da criminalidade na cidade. Mas, também, gerou reações contrárias.
Um dos questionamentos era: se alguém comete dois crimes graves, endireita sua vida e, depois de alguns anos, comete um novo deslize, como roubar uma pizza, essa pessoa merece ficar 25 anos na cadeia?
Aí está uma ilustração clássica da Curva U invertida. Até que ponto ter leis mais rígidas ajuda a melhorar a sociedade?
No livro Davi e Golias, o autor ressalta que a curva U deve ter limites claros, parando no ponto ótimo para alcançar o bem comum. Ela ilustra que mais nem sempre é o melhor.
Algumas políticas podem ser positivas e gerar grande valor para a sociedade, mas é preciso ter cuidado ao criar as regras. Elas podem chegar ao ponto de piorar a situação.
Acreditar ter poder não significa ter poder
Veja o que aconteceu em uma região da França, dominada pela Alemanha, na Segunda Guerra Mundial.
Os alemães criaram ali um novo governo, liderado por Philippe Petain. Ele era um nazista que caçava judeus, enviando-os para os campos de concentração.
A rebelião começou com o pastor Andre Trocme, na cidade de Le Chambon-sur-Lignon.
Ele incitava as pessoas a não respeitarem as regras alemãs em relação aos judeus. Assim, enquanto Petain os caçava, Trocme dava-lhes abrigo e segurança.
Quando um enviado alemão chegou a Le Chambon, encontrou uma cidade insatisfeita e cheia de ódio contra as leis nazistas.
Um grupo de estudantes entregou-lhe uma carta em que se admitia haver judeus na cidade, porém, sob proteção. O governo não iria levá-los.
Por anos, os franceses esconderam judeus e criaram documentos falsos para protegê-los dos nazistas.
Trocme jamais recuou e, claro, acabou na prisão. Mesmo preso, o pastor seguiu rejeitando a autoridade alemã. A população de Le Chambom também.
Por que isso aconteceu? Por um simples motivo: Le Chambom era uma cidade formada por descendentes que sofreram muita intolerância.
Seus ancestrais enfrentaram a igreja católica e foram perseguidos violentamente. Pelo fato de terem sido tão acostumadas à violência na cidade, não tiveram medo de desafiar os nazistas.
Para eles, os poderosos não eram tão poderosos assim, e os mais fracos não eram tão fracos.
Enfim, o livro Davi e Golias mostra que ser poderoso não significa ser grande e amedrontador. Os gigantes tentam provar seu poder atacando os mais fracos, para esconder suas próprias fraquezas e a falta de autoconfiança.
Entender a diferença entre as pessoas que acreditam ter poder e aquelas que realmente têm poder é o que realmente importa.
Além do livro Davi e Golias: mais opções de leitura
Malcolm Gladwell é autor de várias outras obras de sucesso, entre elas, O Ponto da Virada, cujo microbook também está disponível para leitura em apenas 12 minutos.
Nesse livro, o autor mostra como pequenas coisas podem fazer grandes diferenças.
Nada Easy, de Tallis Gomes, é mais uma excelente opção para quem quer alcançar o sucesso, vencendo o medo de errar.
Aproveite as nossas dicas e boa leitura!
Emir is the Head of Marketing at 12min. In his spare time, he loves to meditate and play soccer.